quarta-feira, 4 de abril de 2012

OVOS DE CHOCOLATE E OVOS FABERGÉ

Ovo de chocolate: um prazer único!
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Tempo de ovos de chocolate, tempo de se lambuzar com essa deliciosa iguaria. Crianças, adultos, não importa: é difícil achar alguém que não goste desse maravilhoso alimento!

É interessante conhecer um pouco da história do costume de presentear as pessoas com ovos de chocolate na Páscoa.

As raízes dessa prática estão situadas num passado bem remoto. Desde a Antiguidade, entre os povos nórdicos celebrava-se, ao fim de março, na passagem do solstício para o equinócio, início da primavera, uma festa dedicada a Eostre, deusa dessa estação (por extensão, protetora da fertilidade, da abundância e da renovação cíclica da vida); Eostre é simbolizada pela lebre (lembraram-se do coelhinho pascal?) e por ovos, imagens associadas à reprodução e à reciclagem da existência; essa celebração milenar, cuja origem se perde no tempo, ensejou a prática, em meio às comunidades nórdicas, germânicas e anglo-saxãs, de se trocar, à época da festa de Eostre, lebres e ovos como forma de se comemorar o renascimento da vida, no início de cada novo ciclo de estações e de plantio. O emprego do ovo como símbolo também está presente em muitas outras culturas.

Vale lembrar, por curiosidade, que a palavra inglesa que designa a Páscoa é easter, derivada do nome da deusa Eostre.

Fato é que os povos cristãos, tendo estabelecido uma regra única para a celebração da Páscoa (palavra que deriva do hebraico Pessach) em 325 d. C. no Concílio de Niceia, incorporaram, por volta do século XII, o hábito pagão da troca de ovos como forma de celebração do renascimento.

Devemos ter em conta, ainda, que a Páscoa cristã difere, em forma e significado, da Pessach judaica (o vocábulo pessach significa passagem); naquela, alude-se à ideia da ressurreição do Salvador; nesta, comemora-se a libertação do povo de Israel, que fora escravizado pelos egípcios, passagem narrada no Shemot (conhecido pelos cristãos como Êxodo), um dos cinco livros que compõem a Torá (que a cristandade designa como Pentateuco).

Voltemos ao tema inicial: ovos previamente esvaziados (para evitar-se o apodrecimento do seu conteúdo) e, em seguida, decorados passaram a fazer parte da tradição na Páscoa cristã; desenvolveu-se, com o passar dos anos, uma sofisticada arte de pintura de ovos, presente na cultura de alguns países europeus, especialmente na Ucrânia, onde essa delicada arte recebe o nome de pêssanka.

pêssankas
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Foi por volta do século XVIII — criação de cozinheiros franceses — que se agregou, à prática de dar ovos decorados como presente de Páscoa, o hábito de se recheá-los com chocolate (alimento trazido da América para a Europa em 1526 por Hernán Cortez). A produção industrial de ovos inteiramente feitos de chocolate data do final do século XIX; apenas em meados do século XX os ovos de chocolate passaram a exibir o formato que têm hoje.

Evidentemente, nem todos os ovos de Páscoa são de chocolate (ou de algum outro alimento); a respeito disso, há uma interessante história relativa a um costume criado pelos dois últimos monarcas russos.

Em 1885, o tzar Alexandre III, soberano de todas as Rússias, encomendou ao joalheiro Karl Gustavovich Fabergé a criação e produção de uma joia em forma de ovo, com a qual pretendia presentear sua mulher, Maria Feodorovna; a beleza e a opulência da joia causaram uma forte impressão na imperatriz; a partir daí, Fabergé passou a produzir anualmente, para o tzar, um ovo a ser dado de presente à sua esposa.

O primeiro ovo Fabergé (1885)
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Seu sucessor, o tzar Nicolau II, manteve o costume, presenteando, a cada ano (exceção feita aos anos de 1904 e 1905), a imperatriz Alexandra com uma joia em forma de ovo, criada por Fabergé; para a família imperial russa, foram produzidos cinquenta e dois ovos até 1917, cada qual com uma denominação própria; a maior parte dessas joias está preservada em diferentes coleções de arte mundo afora (oito delas estão desaparecidas). O valor de mercado dessas maravilhas da joalheria russa é, como podemos imaginar, bem elevado; para se ter uma ideia disso, basta mencionar que, em 2004, o preço de uma dessas obras de arte foi estimado, por uma famosa casa de leilões, em vinte e quatro milhões de dólares.

Treliça de rosas - ovo Fabergé (1907)
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Coroação - ovo Fabergé (1897)
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Bem, de minha parte fico com os deliciosos ovos de chocolate. E vocês?

Feliz Páscoa para os que a comemoram segundo a tradição cristã; para os que irão celebrar, de acordo com a tradição judaica, Pessach no período de 6 a 14 de abril de 2012, Chag Pessach Sameach!

Antonio Ozório Leme de Barros

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