sábado, 28 de maio de 2011

PROFESSOR JOSÉ ROSEMBERG

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O texto reproduzido abaixo foi escrito por Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg, que foi casada com o inesquecível Mestre José Rosemberg, Professor Titular da Cadeira de Tisiopneumologia da Faculdade de Medicina de Sorocaba e Diretor da escola, de quem tivemos a honra de ser alunos no quinto ano; o artigo, escrito em 2009, é uma homenagem à memória do saudoso Mestre pelo transcurso do centenário do seu nascimento; vamos a ele:
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JOSÉ ROSEMBERG (1909-2005)
UM DOS PIONEIROS DA LUTA
CONTRA O TABAGISMO NO BRASIL

José Rosemberg, filho de Emanuel Rosemberg e Eugenia Rosemberg, nasceu em Londres, Inglaterra, em 19 de setembro de 1909, e veio para São Paulo aos 6 anos de idade, naturalizando-se brasileiro. Em 1928, graduou-se em farmácia e, em 1934, em medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Professor Titular de Tuberculose e Doenças Pulmonares durante mais de quatro décadas e Diretor da Faculdade de Ciências Médicas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Rosemberg foi uma das primeiras vozes que colocou, no Brasil, o tema tabagismo. Já tinha um reconhecimento nacional e internacional no controle da tuberculose quando, na década de 1970, com mais de 60 anos de idade entrou de forma corajosa em um tema novo que não tinha ainda nenhuma base nacional. Ele veio a público, falou com a imprensa, ensinou seus alunos, escreveu livros, cruzou este País desfraldando a bandeira de luta contra o tabaco sendo, portanto, iniciador de uma massa crítica brasileira no combate ao fumo.

Foi Presidente do I Congresso Brasileiro sobre Tabagismo, realizado no Rio de Janeiro, em 1994, e Presidente de Honra dos quatro congressos seguintes, ocorridos, respectivamente, em Fortaleza (1996), Porto Alegre (2000), Brasília (2002) e Belo Horizonte (2004).

Em sua luta contra o tabagismo, Rosemberg foi membro do Grupo Assessor do Ministério da Saúde para o Controle do Tabagismo no Brasil, de 1985 a 1993; presidente do Comitê Coordenador do Controle do Tabagismo no Brasil, de 1987 a 2005; membro da Câmara Técnica de Tabagismo do Programa Nacional de Controle do Tabagismo do INCA-MS, de 1993 a 2005; assessor técnico em tabagismo da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, de 1999 a 2001.

Foram muitas as condecorações e os títulos honoríficos que lhe foram outorgados por instituições governamentais e ONGs. Citamos apenas algumas: a OMS conferiu-lhe a Medalha “Tabaco e Saúde” pelas pesquisas e luta contra o tabaco no Brasil, em 10 de novembro de 1991; o Comitê Latino Americano Coordenador do Controle de Tabagismo o proclamou Presidente Honorário, em 25 de janeiro de 1995, na Cidade do México; a Secretaria Nacional Anti-Drogas da Presidência da República, em 19 de junho de 2002, conferiu-lhe o diploma “Mérito pela Valorização da Vida”; a Secretaria de Justiça e Defesa do Cidadão do Estado de São Paulo, em 26 de junho de 2002, conferiu-lhe um diploma por sua luta anti-drogas.

Rosemberg publicou quatorze livros e mais de duzentos artigos científicos em revistas médicas nacionais e estrangeiras. Dentre os livros relacionados ao tabagismo citamos: "Tabagismo: Fisiopatologia e Epidemiologia", publicado pela Pontifícia Universidade Católica do Estado de São Paulo, 1977; "Tabagismo: Sério Problema de Saúde Pública’, publicado pela editora Almed-Edusp - São Paulo, 1981. Esta obra foi laureada pela Academia Nacional de Medicina; "Métodos para deixar de fumar", com a colaboração de Vera Luíza da Costa e Silva, publicado pelo Instituto Nacional de Câncer, Rio de Janeiro, 1986; "Tabagismo e Câncer", publicado pelo CEBRAF, Senado Federal, Brasília, 1991; "Informações Básicas sobre o Tabagismo", publicado pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, 1996; "Cartilha sobre Tabagismo", publicado pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, 1997; "Temas sobre o Tabagismo", publicado pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, 1998; "Nicotina", publicado pelo Colegio Medico del Peru, Colcit, Lima, 1999; "Pandemia do Tabagismo. Enfoques Históricos e Atuais", publicado pela Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo, 2002 e "Nicotina: Droga Universal", com a colaboração de Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg e Marco Antonio de Moraes, publicado pelo INCA-MS e pela SES/CVE, São Paulo, 2003.

As repercussões científicas e práticas de seu trabalho, exemplificadas por suas pesquisas sobre a vacinação BCG indiscriminada (direct vaccination), a proteção anti-leprótica pelo BCG e o tabagismo e seus malefícios à saúde, alçaram-no ao umbral das grandes personalidades médicas do século XX.

No ano de seu centenário de nascimento reverenciamos a memória de JOSÉ ROSEMBERG, enaltecendo o esforço de toda a sua longa e profícua existência dedicada ao controle da tuberculose e do tabagismo, em nosso País.
Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg
Médica, Mestra em História-PUC-SP
Fortaleza, 15 de outubro de 2009.




sábado, 21 de maio de 2011

UMA VISTA AÉREA, UM SONHO NÃO REALIZADO

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Temos, aqui, uma interessante vista aérea da Faculdade de Medicina de Sorocaba e adjacências, captada em 1968 (em época próxima, portanto, à do ingresso da XX Turma); havia alguns prédios em construção no entorno da escola.

No canto inferior direito, vemos os pilares em arco do inacabado Santuário Nacional de São Lucas, sonho não realizado do nosso saudoso mestre Dom Antonio Pedro Misiara (1917-2004), que aparece na foto abaixo; Dom Misiara, elevado ao episcopado em 1976, tornou-se bispo da Diocese de Bragança Paulista, SP.

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sexta-feira, 13 de maio de 2011

MENSAGEM DE AYRTON SOEIRO DE FARIA

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A propósito da série de postagens dedicadas à Festa da Amizade, publicadas neste blogue, recebemos do querido colega Ayrton Soeiro de Faria (que aparece na foto ao lado do companheiro Hertz Moura de Jesus), integrante da XVIII Turma da Faculdade de Medicina de Sorocaba, a seguinte mensagem:
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Agradeço essa lembrança entre emocionado, orgulhoso e nostálgico.
Tenho muita honra de ter feito parte dessa história. Aliás, história da minha vida!
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Tenha certeza, caro Ayrton, de que compartilhamos, todos, os mesmos sentimentos em relação à nossa Escola e a essa época!

Um forte abraço de todos os companheiros da XX Turma!


sexta-feira, 6 de maio de 2011

A ESCOLA DOS ANOS DOURADOS

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O Professor Edgard Steffen, com o qual tivemos aulas na Cadeira de Parasitologia Médica, dedica-se não apenas à Pediatria (sua especialidade) mas também à literatura; é integrante da histórica I Turma da Faculdade de Medicina de Sorocaba, que deu à escola vários dos seus professores.

No artigo que transcrevemos abaixo, ele nos fala um pouco acerca de eventos relacionados à fundação da Faculdade de Medicina de Sorocaba; vamos a ele:
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A ESCOLA DOS ANOS DOURADOS

Edgard Steffen
Publicado no jornal “O Cruzeiro do Sul”
Formado pela primeira turma da Faculdade de Medicina de Sorocaba em 1956
Ex-docente de Parasitologia Médica

A Faculdade de Medicina de Sorocaba nasceu de sorocabanos que ousaram sonhar e conseguiram trocar seus sonhos por um objetivo, atingido e ultrapassado. A história de nossa faculdade já foi muito bem contada e documentada pelo Dr. Hely Felisberto Carneiro em seu Livro “ A Faculdade de Medicina de Sorocaba e os 50 Anos de sua história”.

Tendo sido contada a história, convidado a escrever sobre a Faculdade de Medicina de Sorocaba em seus cinquenta anos, nos restou contar a estória. Não nos julguem saudosistas. O saudosismo nos impele sempre a achar que os tempos bons fazem parte do passado. Não existem “aqueles bons tempos”... existem apenas realidades diferentes.

Sorocaba, dos anos 50, era uma cidade grande mas guardava as características de simplicidade e informalidade do interior paulista) maximizadas por sua origem tropeira. Era grande pelo número de seus habitantes, pela geração de riquezas e pelo seu equipamento social. Cidade das indústrias (que geravam emprego e riqueza) e das escolas (que permitiam a instrução e formação de sua juventude) carecia do ensino universitário. Enquanto sua escola médica era sonhada, gestada e nascida, os bondes circulavam modorrentos desde a Rua dos Morros até o Cerrado; os guardas-civis, em seus uniformes azuis, cuidavam da ordem e do trânsito; compravam-se frios e laticínios na Mercearia Jacomino, fazia-se a barba e o cabelo no Salão Telles, discutia-se a instalação da semana inglesa, a pasteurização do leite e a política local. Os jornais cuidavam de assuntos como o resultado dos exames do Ginásio Estadual (Estadão), as reuniões e transcrição das palestras do Rotary Clube, a instalação do Banco do Estado de São Paulo na Rua Monsenhor João Soares. Nosso povo vibrava com a vitória de seus filhos: Prof Arthur Fonseca, sendo aprovado em 3° lugar no concurso estadual de ingresso ao magistério secundário; o “five” (como os jornais escreviam) sorocabano de basquete com Campineiro, Paschoalick, Sete Belo, Didi, Alonso era praticamente imbatível no interior paulista; Nilson Ferreira Leão convocado para a seleção paulista de natação e posteriormente sagrado campeão e recordista pan-americano. A Praça Cel. Fernando Prestes era palco do footing dos jovens. Outros clubes poderiam ser mais animados, mas o palaciano da cidade era o Sorocaba Clube. Nas noites boêmias, nos bares da moda, podia-se ouvir a afinada e empostada voz do Ireno Hanser, a voz e os acordes do Luiz Violão ou o violino do Vicente Centenário. Os jornais tratavam de todos esses assuntos além da política local com seus conflitos. Apesar de pacata, nossa cidade, nunca foi politicamente amorfa; partidos proibidos pela conjuntura da época, costumavam influenciar e decidir eleições.

Do ponto de vista médico-sanitário, os anos não eram assim tão dourados. O uso dos antibióticos ainda incipiente e oneroso; os jornais inseriam propaganda de empresas que se propunham a importar penicilina, estreptomicina e dihidroestreptomicina. Inseriam também apelos à caridade pública para aquisição desses antibióticos para tuberculosos pobres. Freqüentemente noticiavam campanhas feitas por entidades locais para aquisição de medicamentos e insumos para o Hospital de Tuberculosos. Os serviços de saúde viviam às voltas com a proliferação de mosquitos gerando veementes protestos; na memória sorocabana continuava vivo o horror da febre amarela do início do século e da malária que grassou até a década de 40, tendo inclusive sido a causa da morte de um de seus mais ilustres prefeitos (Quinzinho de Barros). Terrenos sujos e saneamento básico deficiente não faziam Sorocaba diferente da maioria das cidades do interior paulista naquela época.

Para os 110 000 habitantes, a cidade contava com 430 leitos de seus 4 hospitais gerais. A construção do Sta Lucinda, doado pelas Indústrias Votorantin, acrescentaria 100 leitos que iriam servir ao ensino médico. Médicos de bom nível técnico, inclusive notáveis cirurgiões, militavam em suas clínicas particulares e nos iapês (previdência). Alguns deles viriam a participar do corpo docente da faculdade. As especialidades eram poucas, limitando-se à oftalmo-otorrinolaringologia, dermatologia, pediatria, cardiologia, tisiologia, radiologia e análises clínicas. A ortopedia, assim como a ginecologia-obstetrícia, era usualmente exercida pelos cirurgiões. As anestesias, ministradas pelas freiras e/ou pessoal de enfermagem. Sempre que possível, usava-se a anestesia local ou a raquianestesia aplicadas pelos próprios cirurgiões. As transfusões, realizadas segundo os tipos sanguíneos da classificação de Landsteiner, eram feitas diretamente do doador ao receptor, utilizando-se o conceito de doador universal. Passado meio século, poder-se-ia inferir que esse quadro limitante da assistência médica seria vencido pela natural evolução da profissão médica. A conclusão nos parece óbvia mas temos uma certeza: a vinda de uma faculdade para Sorocaba apressou esse tipo de desenvolvimento. Anestesia, Banco de Sangue, Ortopedia, Cirurgia Torácica, Cirurgia Infantil, Anatomopatologia e outras especialidades foram se instalando com a velocidade de funcionamento das respectivas cadeiras na Faculdade.

A esperança de vida, para quem aqui nascesse, era de 55 anos e a razão de mortalidade proporcional – que mede os óbitos de maiores de 50 anos – era de 28% (praticamente a metade da razão de mortalidade proporcional da capital do Estado). A mortalidade infantil hoje situada entre 15 a 20 por mil nascidos vivos – devia estar em torno de 100 ou mais por mil. Nas cidades vizinhas a situação era pior: grande parte dos municípios da região sul do Estado de S Paulo não tinha nem hospital nem médico residente. Acreditamos – ao lado do idealismo de seus fundadores – essa constatação constituiu forte argumento na escolha de Sorocaba para sede de uma escola médica. Pensava-se que a interiorização do curso médico, resultaria naturalmente na interiorização dos profissionais. Ainda não se conheciam trabalhos mostrando que a mortalidade infantil variava mais com a presença de agência bancária que com a presença de médico nas comunidades. Um parêntese, no dia 18/3 a agência do Banespa também comemora o cinqüentenário de sua atividade em nossa cidade.

Para terminar, no dia 4 de abril de 1950, a manchete do Cruzeiro do Sul alardeava: “O Presidente Dutra concedeu autorização para funcionamento da Faculdade de Medicina de Sorocaba ainda este ano”. A notícia fora dada ao prefeito Gualberto Moreira pelo Dr. Novelli Jr., deputado federal ituano e ligado à família do Presidente Dutra. O que os jornais não contam: essa adesão do Presidente foi conseguida num lance de ousadia de Gualberto Moreira e do Padre André Pieroni.

Tratando do assunto no Ministério da Educação, souberam que se o Presidente Dutra concordasse, a faculdade sairia do papel. Fizeram plantão perto do Palácio do Catete, dormindo num táxi desde a madrugada. Quando o madrugador Marechal Dutra saiu para sua andada matinal, sofreu a abordagem. Eram anos dourados de paz e democracia, mas os seguranças que impediriam a aproximação de um paisano, nem desconfiaram que aquela batina preta, vindo em sua direção, teria a ousadia de abordar o Presidente e entregar-lhe os documentos relativos ao funcionamento da nossa Faculdade.

Apesar da autorização, a Faculdade de Medicina somente começou a funcionar no ano seguinte... mas isso já é outra estória.

fonte: http://pt.scribd.com/doc/24352197/anuario-2001