sábado, 12 de novembro de 2011

UMA BELA HISTÓRIA DE LUTA

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Essa jovem que aparece na foto (captada em 1879) é Maria Augusta Generoso Estrella (nascida no Rio de Janeiro em 1860, cidade na qual faleceu em 1946), a primeira brasileira a se tornar médica. Queremos, nesta postagem, falar um pouco a respeito da sua vida e da sua trajetória, que merecem ser conhecidas e admiradas, em vista das enormes dificuldades que teve de enfrentar para ser médica; vejam isso, especialmente, como uma forma de homenagear as trinta queridas colegas formadas pela XX Turma da Faculdade de Medicina de Sorocaba que, de algum modo, também precisaram superar barreiras e preconceitos para se tornarem médicas.

Vivemos num mundo onde as mulheres ainda estão sujeitas a formas variadas de discriminação negativa, que lhes impõem dificuldades para o alcance da plena realização no âmbito social, na sua educação e na vida profissional; há que se mudar esse quadro.

A história de Maria Augusta Generoso Estrella, por outro lado, é também um exemplo notável de outra espécie de discriminação negativa, essa, ainda, lamentavelmente pouco percebida: referimo-nos às dificuldades que se criam para os superdotados.

Pessoas que apresentam graus elevados de inteligência (vista esta sob todas as suas formas de manifestação), os superdotados deveriam receber cuidados especiais, mediante políticas públicas que lhes oferecessem acesso a planos curriculares destinados a atender a sua capacidade de aprendizagem rápida, de modo a lhes permitir que, em breve espaço de tempo — menor do que aquele demandado pelos currículos escolares tradicionais —, pudessem logo se tornar produtivos, gerando conhecimento, ciência e cultura em benefício da humanidade.

Maria Augusta Generoso Estrella, jovem superdotada, percorreu um verdadeiro calvário para graduar-se em medicina; conhecer, mesmo que rapidamente, a sua história pessoal, dá-nos ideia da extensão do caminho que ainda temos de percorrer, até que todos os seres humanos possam aproveitar, por inteiro, as suas potencialidades e, sobretudo, ser felizes.

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A primeira médica brasileira foi Maria Augusta Generoso Estrella.

Em 1875, com apenas quinze anos de idade, muito inteligente e estudiosa, manifestou sua intenção de estudar Medicina (consta que teve o despertar desse interesse durante uma viagem de navio, em que houve um abalroamento com um cargueiro, daí resultando ferimentos em marinheiros, dos quais ela ajudou a tratar).

No Brasil, nessa época, ainda não era permitido o ingresso de mulheres nas Faculdades de Medicina, mas, insistindo com seu pai, Maria Augusta partiu para os Estados Unidos, para tentar cursar o Medical College for Women [New York Medical College and Hospital for Women], tendo porém seu pedido negado por não ter a idade mínima exigida para ingresso, que era de dezoito anos. Mas, não se conformando, Maria Augusta propôs à Congregação da Escola que fizessem um debate, ao qual, além dos membros da Congregação, compareceram professores e alunos, diretores e famílias tradicionais do local, para ver e ouvir o que aquela mocinha tinha a dizer.

De uma tribuna especialmente preparada para ela, Maria Augusta perguntou aos membros da Congregação: "Que importa a idade se me acho apta aos exames de suficiência que os senhores exigem? Por que a recusa para que eu seja examinada?"

O exame foi marcado para o dia seguinte e, em inglês perfeito, Maria Augusta foi respondendo a todas as perguntas. Obteve a aprovação imediata e logo a seguir matriculou-se.

Houve repercussão do caso em todo o mundo e, no Brasil, por decisão de D. Pedro II, que ficou emocionado com o sucesso da brasileirinha, considerou-a "Bolsista do Império", por Decreto de 20 de outubro de 1877.

Quando terminou o curso, novo empecilho surgiu, pois a idade mínima para a graduação era de 21 anos. Teve de aguardar mais dois anos, os quais aproveitou para frequentar clínicas e hospitais. Ao colar grau, foi escolhida como oradora da turma e agraciada com medalha de ouro.

Retornou ao Brasil em 1882, tendo sido recebida em audiência especial pelo Imperador D. Pedro II e pela Imperatriz.

Maria Augusta clinicou por muitos anos na sua cidade natal, o Rio de Janeiro, tanto na Capital como no Interior, atendendo mulheres e crianças e dando atenção especial aos pobres. Sempre lutou pelos direitos da mulher, em consonância com seus antigos preceitos. Cabe, aliás, lembrar que, quando nos Estados Unidos, também editou um jornal que defendia as causas feministas. A Dra. Maria Augusta Generoso Estrella faleceu em 1946, aos 86 anos, ainda lúcida, no Rio de Janeiro, onde nascera.

Foi principalmente devido a seu exemplo e aos esforços que as mulheres do Brasil passaram a ter acesso às Faculdades de Medicina, pela Reforma Leôncio de Carvalho, a partir de 1879.

texto: Dra. Verônica Rapp de Eston, Dra. Drina Coelho Ungaretti e Dra. Magdalena Hildegard Stoltz,

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Uma linda história, não acham?

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